Foto do dia – 17/07/2024
Leonardo Barreto para i3P Risco Político
Quem trabalha com projeção de cenários de forma aplicada sabe que o objetivo da atividade não é prever o futuro, mas ter elementos para trabalhar no presente com o objetivo de manter, mudar ou se preparar para o que provavelmente está vindo. Por isso o uso do termo “aplicado”.
Nos seu momento de maior fragilidade, no enterro da MP 1227, depois de um cenário de rebelião dos setores econômicos contra a mudança da regra de uso de créditos tributários, levando o líder do PT no Senado, Jaques Wagner, apoiar a devolução da medida para acabar com uma “tragédia sem fim”, o ministro da Fazenda, Fernado Haddad recebeu a solidariedade da Febraban (ver link abaixo).
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O presidente da entidade, Issac Sidney, disse naquela oportunidade que: “Nós saímos convencidos desse encontro de que o ministro Fernando Haddad está determinado a buscar o equilíbrio das contas públicas, mas também saímos convencidos de uma disposição firme que ele tem para fazer o diálogo dentro do próprio governo, para expandir esse diálogo para o Congresso Nacional, que é um Poder fundamental nessa equação de busca do equilíbrio fiscal, e também na interlocução que ele tem feito com o empresariado”.
Ontem (16), o CEO do Banco XP, José Berenguer, em entrevista ao Estadão, seguiu roteiro idêntico ao visitar Brasília: “Agora, o que eu sinto é que existe um comprometimento total por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso em fazer com que isso caminhe dentro do que foi combinado em termos de metas. Não tenho dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível.” (ver link abaixo)
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no mesmo dia, no entanto, o presidente Lula, em entrevista à rede Record, repetiu o que tem dito desde o final de 2023, que entre a meta fiscal e seus compromissos políticos, prefere priorizar sua agenda. O ministro Haddad correu para dizer que a fala de Lula estava fora de contexto. E um analista econômico, ex-diretor do BC, Luiz Mendonça de Barros, disse jocosamente na sua rede social que “o ministro da Fazenda vai direto para o céu”.
O que podemos inferir é que tanto a Febraban quanto o CEO do Banco XP sabem que Haddad não depende das próprias forças para entregar a agenda fiscal. Mas, ao invés de apontar o dedo, prevendo tempos difíceis no horizonte, preferem tentar alterar a realidade, fortalecendo o ministro, movidos pelo receio do “ruim com ele, pior sem ele”.
Haddad dialoga com São Paulo e ainda tem condições de fazer uma ponte entre mercado e Lula e esse é o seu principal ativo. Por isso, mesmo que parte do setor financeiro que saiba que as condições políticas da agenda fiscal estão longe do ideal, não vê outra opção a não ser participar do jogo, mesmo que pareça estar apenas analisando o jogo, para melhorar o cenário projetado.