Inside Brasília – 23/10/2024
Por i3P Risco Político
Foto: Diogo Zacarias/MF
Uma Receita Simples para o Sucesso?
Em meio a um cenário econômico aparentemente promissor, o governo brasileiro celebra um recorde de arrecadação, impulsionado por uma série de “ajustes” cuidadosamente implementados. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o grande trunfo foi recompor a base fiscal eliminando “benefícios” destinados às camadas mais ricas. Em outras palavras, estamos testemunhando o renascimento fiscal de um país que descobriu a fórmula mágica de gerar receita enquanto “restringe” despesas e defende sua sustentabilidade econômica com firmeza. Agora, basta acompanhar os desdobramentos e, quem sabe, acreditar que o caminho está totalmente pavimentado para o crescimento sem tropeços.
Recomposição da Base Fiscal
De acordo com Haddad, o foco do governo está na reestruturação da base fiscal para lidar com despesas herdadas, que não possuem fontes de financiamento. Ele ressaltou as medidas aprovadas pelo Congresso no final do ano passado, que têm impulsionado a arrecadação, como a taxação de investimentos em offshores, a antecipação do Imposto de Renda sobre fundos exclusivos e o fim de subsídios para despesas corporativas de grande porte. Essas ações são vistas como cruciais para o cumprimento da meta do governo de zerar o déficit primário, enquanto esforços são feitos para conter gastos.
Recorde de Arrecadação em Setembro
Nesta terça-feira, a Receita Federal divulgou que a arrecadação federal em setembro totalizou R$ 203,17 bilhões, um recorde em valores corrigidos pela inflação. Em comparação com setembro de 2023, o aumento foi de 11,61%, descontada a inflação.
Resposta às Projeções do FMI
Haddad e outros ministros da equipe econômica estão em Washington nesta semana para a reunião anual do FMI e do Banco Mundial. Paralelamente, ocorrem encontros dos ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais do G20. Em reação ao novo relatório do FMI, que elevou a projeção de crescimento da economia brasileira em 2024 de 2,1% para 3%, mas reduziu a estimativa para 2025 de 2,4% para 2,2%, Haddad contestou as alegações de que a forte expansão do PIB brasileiro é resultado de estímulos fiscais.
Sustentabilidade do Crescimento Econômico
Segundo Haddad, o crescimento do Brasil é sustentável e não depende exclusivamente de estímulos fiscais. Ele destacou que o déficit primário em 2023 foi de R$ 230,54 bilhões, três vezes o valor programado para este ano, mas, mesmo assim, a economia está crescendo mais que no ano passado. “Estamos caminhando para um crescimento sustentável, com a inflação sob controle, o que demonstra que temos potencial para continuar avançando nos próximos anos”, concluiu.
Mudança de Agenda e Relações Bilaterais
O primeiro dia de viagem de Haddad a Washington foi marcado por uma mudança de agenda a pedido da Casa Branca. O ministro, acompanhado do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e da embaixadora nos Estados Unidos, Maria Luiza Viotti, reuniu-se com Lael Brainard, diretora do Conselho Econômico da Casa Branca. As discussões focaram nas relações bilaterais e nas pautas do G20, onde Brasil e Estados Unidos divergem quanto à proposta brasileira de taxar rendimentos dos super-ricos.
Reuniões Canceladas e Impacto nas Agências de Classificação
Devido ao encontro na Casa Branca, a reunião de Haddad e Galípolo com representantes da agência de classificação de risco Fitch foi cancelada. Em setembro, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, Haddad e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniram com representantes da S&P Global e da Moody’s. Dias após o encontro, a Moody’s aumentou a nota de crédito do Brasil, refletindo a confiança nas políticas econômicas implementadas.
Dançando em Círculos
Ao final, o governo brasileiro apresenta uma fórmula aparentemente infalível: recompor a base fiscal, cortar benefícios, e continuar projetando um futuro brilhante de crescimento “sustentável”. Os números estão aí para provar que, entre restrições de gastos e encontros diplomáticos estratégicos, há um caminho sólido sendo trilhado. Mas para além dos discursos, fica a questão: será que estamos assistindo ao nascimento de uma nova era de responsabilidade fiscal e crescimento contínuo, ou apenas a uma dança bem coreografada onde cada movimento esconde um tropeço esperando para acontecer? Afinal, manter a estabilidade enquanto se lida com tantas variáveis imprevisíveis é, certamente, um espetáculo que vale a pena acompanhar de perto.